Cheio de vazio
Éramos nós e uns poucos metros quadrados. Não tínhamos varanda, mas havia sempre a companhia para assistir o pôr do sol da janela. Tínhamos o mesmo quarto, o mesmo armário e, com sorte, o mesmo luar no nosso céu. Era apertado, mas tínhamos tantas palavras e um riso fácil para esperar o sono chegar.
Um dia, quando acordamos, os metros quadrados tinham aumentado, havia paredes, portas e trancas sob o teto e já não se ouvia a risada. Era o mesmo caminho: da porta de entrada à minha cama, às vezes cantarolava o meu silêncio e às vezes só dormia. Em nossos poucos encontros, a distância do hall não nos permitia ouvir as nossas vozes.
Somos o mesmo velho par, mas há muita coisa por aqui. Só não entendo se nos perdemos nesse espaço mal aproveitado ou se, na verdade, não somos o suficiente para completar nossos vazios.












Ótimo.